Porto de Saudade

Porto de Saudade

 

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Excerto

Dos sete mares do Mundo, certamente, um nasceu do suor dos portugueses, mas dessas sementes deitadas no horizonte, quem colherá os frutos?

Deus queira que não sejam mãos alheias a colher a seiva das terras que desbravaste. Deus queira que não tragas só a guerra contigo, só as mãos calejadas, só a pele arranhada de espinhos, só as gengivas em sangue, só a pele em chagas… 

Deus queira que no teu regresso, não encontres este meu corpo de mulher ultrajado, tomado por aqueles que se aproveitaram do teu sonho de glória, da tua partida, da tua ausência… 

Deus queira que não encontres filhos que não são teus, mas que encontram alimento nos meus seios. 

Andam os abutres no ar. Tenho medo. Regressa marinheiro, regressa! Rápido!... 

Dá volta ao leme, faz marcha à ré, corrige a posição das velas, faz torna viagem e segue o que era o teu rastro de espuma. Volta aos meus braços, recolhe ao teu cais, vem lançar amarras no meu corpo, lançar a âncora no meu ventre. 

Vem, de novo, plantar trigo no meu peito, cozer pão no meu fogo, fazer filhos do meu barro. Descobre a pimenta no meu sangue, a seda na minha pele, as pedras preciosas nos meus olhos. Coloniza os meus pensamentos selvagens e fala-me de Cristo quando pecar no meu desejo. 

Eu sou a tua Pátria, o chão dos teus passos, a terra que tens de cultivar. Se queres mar, podes navegar nas minhas margens, como quando a tua mão desliza pelos lençóis e se estende para além dos nossos corpos. 

Tenho medo. Regressa marinheiro... regressa. É urgente!...