Uma Viagem de Coração Aberto: Solidariedade e Cultura em Cabo Verde ____________________
Não foi turismo. Integrado numa missão humanitária da Associação “Mais Lusofonia”, a minha recente viagem a Cabo Verde, em Julho, foi uma marcante experiência humana. Ao lado de 18 voluntários liderados por Sofia Lourenço, embarquei numa jornada que se revelou muito mais do que um simples intercâmbio cultural; foi uma oportunidade de viver a solidariedade na sua forma mais pura, marcada por encontros humanos memoráveis e acções de impacto duradouro.
Lançamento de “Praia di Bunitas”: Um Tributo à Cultura Cabo-verdiana
A cidade da Praia, na Ilha de Santiago, foi o palco para o lançamento do meu livro “Praia di Bunitas”. Um evento no Museu da Educação, sob o cuidado da sua presidente, Dra. Clara Marques, que foi inexcedível nos seus cuidados em nos receber e apresentar a cidade da Praia, onde é também presidente da Assembleia. Tive ainda a oportunidade de encontrar na sua terra a minha amiga escritora Vera Duarte – foi um prazer. Para mim, o livro mrcou a ousadia de entrar no panorama cultural de Cabo Verde sem nunca lá ter estado antes, mas foi o meu contributo para os jovens daquele arquipélago, o meu contributo para a difusão da língua portuguesa. Este livro tem ainda umas passagens em crioulo, para mesclar mais ainda a nossa cultura comum. Fala da amizade de uma menina pela sua boneca e depois leva-nos para uma mensagem de defesa dos oceanos. A distribuição gratuita de exemplares pelas escolas representou um pequeno, mas significativo, passo na promoção da leitura e na disseminação do conhecimento entre os jovens cabo-verdianos. Ver o brilho nos olhos em alguns estudantes ao receberem o livro foi um dos momentos mais gratificantes da viagem. Sentir que, de alguma forma, contribuía um pouquinho para a educação e cultura deste nosso país irmão, foi uma experiência que me trouxe uma nova dimensão como escritor.
Na Ilha Brava, a produção de um espetáculo de dança, envolveu jovens bravenses e professores da Escola Artística e Orfeão – foi outro ponto alto da missão. A dança, uma linguagem universal, tornou-se um meio poderoso de expressão e conexão, revelando o talento e a paixão dos jovens cabo-verdianos. Apenas com uns poucos dias de ensaios, assistimos orgulhosos ao espectáculo final na Praça da cidade de Nova Sintra, certos de que aquela era uma manifestação da identidade cultural e da resiliência de um povo que transforma dificuldades em arte. Nós só demos uma pequena ajuda com uma equipa de coreógrafos…. foi fantástico!
Este evento foi complementado pela nossa ação solidária. A Câmara Municipal da Brava identificou as famílias mais carenciadas e foram distribuídas roupas, material desportivo, colchões, sanitas… e também, um abraço fraterno, um gesto de amor e respeito pelo próximo. A interação com essas famílias mostrou a simplicidade e a dignidade com que enfrentam os desafios diários, o seu agradecimento puro, o seu sorriso sempre presente apesar das dificuldades – uma lição de vida que guardarei para sempre.
Formação e Cuidado: Investindo no Futuro
Um dos aspectos mais transformadores da nossa missão foi a formação de enfermagem e cuidados primários que a “Mais Lusofonia” ofereceu aos profissionais de saúde e auxiliares de ação educativa. Os colegas voluntários especializados, contribuíram assim para capacitar aqueles que estão na linha de frente do cuidado à saúde na ilha da Brava. A troca de conhecimentos foi enriquecedora, mas foi a dedicação e o espírito de serviço dos profissionais locais foi o que mais impressionou. Eles são os verdadeiros heróis do dia a dia, e saber que pudemos fortalecer as suas capacidades foi um motivo de grande orgulho para toda a missão.
Encontros Memoráveis: Fé, Liderança e Compromisso Social
A nossa passagem pela Praia foi marcada por encontros importantes. Fomos recebidos por Sua Eminência, o Cardeal Dom Arlindo Furtado. Sentimos a profundidade espiritual de um líder que inspira não apenas pela fé, mas pela sua dedicação ao povo cabo-verdiano. Dom Arlindo falou com sabedoria sobre a importância do serviço ao próximo, reforçando a noção de que a solidariedade é uma forma de expressar o amor divino em ações concretas.
Outro momento marcante foi a audiência com o Presidente da República de Cabo Verde, Dr. José Maria Neves. Este encontro reforçou a nossa convicção de que as ações solidárias em países de língua portuguesa são um compromisso solidário por conta de um passado comum que nos une. O presidente expressou o seu reconhecimento pelo trabalho da “Mais Lusofonia” e enfatizou a importância da cooperação entre os países lusófonos para enfrentar os desafios contemporâneos.
Fazenda Esperança e Aldeias SOS: Esperança e Novo Começo
Em Cabo Verde, testemunhamos o impacto transformador do trabalho realizado por organizações locais, como a Fazenda Esperança e as Aldeias SOS. Na Fazenda Esperança, coordenada pelo Sr. Padre Ronaldo Bernardo, conhecemos homens que, graças a um ambiente de apoio e recuperação, estão reconstruindo as suas vidas após enfrentarem dependências. A nossa contribuição foi modesta, mas o que recebemos em troca – a lição de resiliência e fé – foi imensurável.
Nas Aldeias SOS, fomos recebidos pela sua responsável, Paula Sanches, que nos mostrou o trabalho essencial que realizam para cuidar de crianças em situação de vulnerabilidade. A emoção foi intensa ao vermos a importância das doações que levámos e o sorriso provocado por pequenas coisas, como uns rebuçados, mas sobretudo…. Abraços, muitos abraços! Essas crianças, cheias de vida e esperança, são a prova de que, com amor e apoio, é possível construir um futuro melhor, independentemente das dificuldades do presente. Pela minha parte apadrinhei uma destas crianças, que procurarei ajudar no seu futuro. Outros fizeram o mesmo, que de criança em criança podemos ajudar o mundo de amanhã a ser um pouco melhor.
Reflexões Finais: A Solidariedade como Laço entre Povos
A viagem a Cabo Verde foi muito mais do que uma série de eventos e encontros; foi uma experiência humana única, que nos permitiu conhecer novas realidades e reforçar a importância da solidariedade nas nossas vidas. Em países de língua portuguesa, onde um passado histórico comum nos une, a responsabilidade solidária é ainda mais premente. Não podemos ignorar as necessidades dos nossos irmãos, pois o que nos liga é mais forte do que as diferenças que possam existir.
Como escritor, mas, acima de tudo, como ser humano, esta jornada ensinou-me que a verdadeira riqueza está nas conexões que estabelecemos com os outros. Cada gesto de solidariedade, cada palavra de apoio, cada sorriso compartilhado são sementes plantadas no solo fértil da humanidade. E, assim, com cada ação, por menor que seja, contribuímos para a construção de um mundo mais justo, mais solidário e mais fraterno.
Este foi, sem dúvida, um capítulo importante na minha vida… e não está encerrado, vai ter continuação!