Luís Osório na Covilhã, numa tertúlia para falar da vida… das muitas vidas!

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Tertúlia na Covilhã, 11 de Novembro de 2019.
Jornalista, escritor, comentador, provocador... 
os muitos rostos, as muitas vidas!

Luís Osório esteve na Covilhã, a meu convite, para uma tertúlia amiga que encheu o Auditório Júlio Cordona, no Centro Cultural da Banda da Covilhã. Parece ter mais anos de trabalho que de vida. Foi um premiado jornalista da RTP, onde deu corpo a programas como o Zapping e Portugalmente, onde a entrevista a seu pai é inesquecível – um marco na sua carreira, e que deveria merecer um estudo por parte de alunos de jornalismo. Foi mais tarde director do Jornal “A Capital” e do “Rádio Clube Português, colaborou com muitos títulos da nossa imprensa. Mas tudo isto, foi uma das muitas vidas do Luís, ele tem mais. Reinventa-se de tempos-a-tempos.

“Plena de dor e pecados, é uma carta escrita à mãe que morreu. Este é um livro visceral. Um arranhar da alma de Luís Osório que, escreve como se ninguém estivesse a ler, e por isso se despe sem pudor. É de uma coragem biográfica a toda a prova. A minha (reforçada) admiração.”
– João Morgado

Noutros tempos também, já foi o Miguel, pois era assim que o tratava a mãe e a avó, aqueles familiares mais próximos, gente que partiu. Ele sobreviveu a tudo isso menos às memórias.

“Ainda bem que não guardamos tudo. Seria impossível viver com as memórias plenas da dor.”

Vidas passadas que plasma no livro “Mãe, Promete-me que Lês”, uma longa carta à sua mãe, dez anos após a morte, em que vai libertando uma carga emotiva que tinha acumulada, na esperança de que ela a possa ler. «Um dia prometes-me que lês? Consegues ler onde estás?», escreve. A sua mãe, a mulher que mais odiou e que mais amou, que vive em si, talvez como nunca. «Nunca pensei que precisasse de cemitérios para a alimentar. Cada um dos meus mortos continua a estar aqui, nas sombras que faço por tornar vivas (…) Não vou aos cemitérios por ser o único local em que não estão vivos.»

Por aquela página passa também o seu pai, uma figura pública dos anos 80, pejado de etiquetas sociais, comunista, homossexual, seropositivo, o que levava as “pessoas a mudarem de passeio quando o encontravam, ou a saírem do autocarro quando ele entrava”, diz Luís Osório. “Quando o entrevistei na RTP quis que soubessem que eu era filho dele”, afirma. Naquela conversa televisiva, perguntou-lhe: «Posso tratar-te por pai?» – talvez porque nunca tivesse sido pai, ou não aquele pai que qualquer garoto sonhava. Estava cheio de dores, de tormentos interiores, mas para o Luís ainda era o seu pai. Diz que, contaminar as suas memórias com a literatura as tornou mais suportáveis.

“Não chorei quando escrevi o livro, mas chorei quando o editei!”

Entre outras muitas obras, escreveu o romance “A Queda de Um Homem” – um dos mais originais livros do nosso panorama literário, com uma linguagem escorreita a levar-nos por um intrincado cenário de personagens sem nome (excepto o cão, “Milo”, se não me falha a memória). Uma obra onde a realidade não está presente, e o leitor segue por caminhos dúbios em que tudo se transforma e se reinventa na sua cabeça. Não é um livro, são vários, tantos quantos os leitores. Talvez todos os livros devam ser assim, mas este dá mais aso à imaginação, senão à loucura. “Falo de um homem carregado de sucesso e de maldade. Mas o mundo seria bem pior sem ele…”, adianta o autor. Que personagem estranho é este? Só mesmo lendo o livro…

 

Fotos: Marco Aurélio

Editou agora um livro importante, em que conversa com 30 portugueses, empresários, políticos, escritores, pensadores, artistas, jornalistas, chefs, cantores, cómicos e em que lhes perguntou o que pensavam e queriam de Portugal. Mais ainda, o que faziam eles por Portugal. Talvez esta obra cresça de importância com o tempo, e o distanciamento a estes personagens nos leve a olhar para eles de outra forma. O livro 30 Portugueses, 1 País (com fotos de Gonçalo Rosa da Silva), termina numa conversa com o actor e encenador Tiago Rodrigues. Acredito que muitos se perguntaram quem era tal personagem, mas pouco tempo depois, este recebia o Prémio Pessoa 2019, o que significa que o olhar do Luís perscruta além do óbvio, do mainstream.

Talvez seja essa inquietação, “cá dentro inquietação, inquietação”, como diz a canção de José Mário Branco, que o leva diariamente às redes sociais a comentar a actualidade. É algo que vai para além do anoso vício de jornalista, pois é uma escrita diferente, assinada, adjectivada, sem medos… uma visão critica do nosso mundo do dia-a-dia, deste nosso Portugal de contrastes.

Mas uma visão que não se prende a uma agenda ideológica que não seja a sua. Onde sinto que escreve o que sente e não o que agradaria a esta ou aquela facção – muitas vezes, enfrentando até, os maniqueístas que julgam tudo a preto e branco, sem capacidade crítica de terem outras leituras intermédias. Da mesma forma que lhe admiro esta escrita lúcida e sem filtros quando concordo com as suas ideias, é a forma com que o respeito quando discordo do que defende – algo que acontece muita vez -, pois a admiração por alguém não implica sermos almas gémeas, mas sim termos valores comuns que nos norteiam, como é a honestidade, intelectual e não só.

“É só inquietação, inquietação…” Que esta inquietação o não abandone, para que siga no seu olhar atento, na sua escrita, na sua palavra certa… foi um prazer conversar com ele na Covilhã, sobre tudo isto, sobre jornalismo, literatura, politica, sociedade, o futuro…. sobre a vida, as nossas muitas vidas!

 

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