Tocar a primeira edição d'Os Lusíadas e folhear o manuscrito do "Amor de Perdição" de Camilo Castelo-Branco. (20 de Maio)
É uma das bibliotecas mais bonitas do mundo. Conhecer o Real Gabinete Português de Leitura, no Rio de Janeiro, foi uma honra. Ter a visita guiada do seu presidente, o insigne Francisco Gomes da Costa, foi um verdadeiro privilégio. É um baluarte da cultura portuguesa no Brasil, que tem ainda a seu cargo a Real e Benemérita Sociedade Portuguesa Caixa de Socorros D. Pedro V e o Liceu Literário Português. Quero agradecer-lhe a disponibilidade mostrada, e a lição de história que me deixou. Serei sempre grato pela sua cordialidade e atenção.
Nestas paredes forradas de livros (e num edifício anexo que garante espaço para as próximas décadas), o Real Gabinete Português possui a maior e a mais valiosa biblioteca de obras de autores portugueses fora de Portugal. Mais de 350 mil livros, entre os quais tive o prazer de encontrar alguns títulos editados por mim.
Tive a oportunidade de visitar algumas salas privadas onde estão guardadas algumas preciosidades da obra de Camilo Castelo Branco e Eça de Queiroz, e o cofre onde são guardadas duas relíquias da história literária portuguesa. O manuscrito “Amor de Perdição”, com a caligrafia artística do Camilo Castelo-Branco, letra pequenina, linhas direitinhas e poucas emendas… o que demonstra a mente limpa com que escrevia.
Fascinei-me depois ao poder consultar e folhear (com a supervisão da técnica) a edição ‘prínceps’ d’Os Lusíadas. Um dos poucos exemplares que restam daquela primeira edição de 1670.

Depois de ter escrito “O Livro do Império” sobre a escrita e edição desta obra, confesso que me emocionei ao tocar naquelas folhas. Aquele livro era a materialização de tudo o que eu escrevera, o mais perto que me era possível chegar do próprio Camões. Vou guardar para mim esse momento mágico…
A história do Real Gabinete
A instituição germinou poucos anos após a independência do Brasil. Iniciativa de 43 imigrantes portugueses do Rio de Janeiro, empenhados em manter e ampliar a cultura portuguesa. A eles se deve a grande encomenda de livros, a compra de manuscritos raros e as assinaram dos jornais que saiam em Lisboa.
Durante mais de cinco décadas, este espólio foi mudando de instalações, até que no início da década de 1880, quando possuíam mais de 50 mil títulos e precisavam com urgências de um novo espaço, surge o projecto de construir uma sede própria, de raiz. Surgiu o fantástico edifício que ainda hoje alberga o Real Gabinete. A inauguração foi em 1887 e contou com a ilustre presença da Princesa Isabel.
Se o interior é imponente – as portentosas estantes, a grande claraboia do salão principal, as pinturas, a colecção de quadros e obras de arte, as relíquias surpresa em cada canto – o que dizer do seu exterior? Uma fachada fantástica do arquiteto Rafael da Silva Castro. Todo o esplendor do estilo manuelino, em pedra talhada em Portugal, e onde se destacam na frontaria, as estátuas de Pedro Álvares Cabral, Luís de Camões, Infante Dom Henrique e Vasco da Gama.
Preciosidades
Para além da edição “prínceps” de ” Os Lusíadas”, de 1572, que pertenceu à “Companhia de Jesus” e do manuscrito do “Amor de Perdição”, de Camilo Castelo Branco, que me foi dado oportunidade de visitar, é possível encontrar ainda as “Ordenações de Dom Manuel” por Jacob Cromberger, editadas em 1521; os “Capitolos de Cortes e Leys que sobre alguns delles fizeram”, editados em 1539; “A verdadeira informaçam das terras do Preste Joam, segundo vio e escreveo ho padre Francisco Alvarez”, de 1540; o “Dicionário da Língua Tupy, de Gonçalves Dias, além de centenas de cartas de escritores.
Fotos e vídeo: Igor Lopes
Real Gabinete Português de Leitura Local: Rua Luís de Camões, 30, Centro, Rio de Janeiro – RJ Horários: de segunda a sexta, das 9h às 18h Telefone: (+55 21) 2221-3138 www.realgabinete.com.br