O retrato de uma solidão a dois... _ Diário dos Imperfeitos __
«…Quando finda o serão, às vezes dizem boa-noite e deitam-se lado a lado. Em tempos, Laura teve a sensação de ter um poema escrito na vasta extensão da sua pele; um poema manuscrito, rabiscado com a língua e com os dedos até às orlas eriçadas da sua pele, para que não restasse um pedaço de prazer com a cor do vazio. Mas isso foi em tempos. Em tempos, em que o seu corpo era um livro por escrever e o Santiago estava a aprender que as mulheres eram como o globo
terrestre, onde se podia viajar sempiternamente sem nunca ter um fim na circum-navegação dos sentidos. Por agora apenas queriam dormir.
Recostavam-se como duas pessoas que se encontram no último autocarro da noite, sentados lado a lado, partilhando o espaço com medo de se tocarem, sabendo que vão na mesma viagem mas vão acordar em destinos diferentes.
Ele a pensar que se não lhe aprovam o crédito, está perdido. Ela a pensar que deve ser artrite reumática ou algo ainda mais grave que a pode deixar incapacitada de tocar arpa.
Precisava de um abraço dela, pensou ele; precisava de um abraço dele, pensou ela; e, silenciosos, dormiram desabraçados na cama fria, podiam morrer ali, próximos e distantes, incapazes de estender a mão. Desabraçados…»
João Morgado IN: Diário dos Imperfeitos
Romance, 2017, Casa das Letras (LEYA)
Prémio Literário Virgílio Ferreira 2012
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«Uma verdadeira teoria do Amor. Este livro sacode-nos!
Margarida Gil dos Reis, Professora de Literatura comparada
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